sábado, 31 de outubro de 2009

A São Paulo de Piratininga em 1634



Atendendo ao apelo dos “quatrocentões” a capivara descreve a vida cotidiana de São Paulo há 375 anos atrás, quando a cidade ainda levava a alcunha de “São Paulo dos Campos de Piratininga”.

A bordo de sua maquina do tempo, visita a cidade, elevada sobre uma colina e cercada por fortificações, reflexo do ataque feroz de uma coligação indígena que teve fim no dia 9 de julho de 1562 – quando finalmente repeliu de vez as tribos Carijós, Guaianases, Guarulhos e Tupiniquins.

O vilarejo foi salvo por dois de seus mais genuínos pais-fundadores: O misterioso João Ramalho, cara-pálida tornado índio, primeiro homem branco a habitar o planalto, e o sogro dele, Tibiriçá, o Vigilante da Terra, morubixaba, principal líder Tupiniquim e que se aliara primeiro ao próprio Ramalho (dando-lhe a filha Bartira como mulher), depois aos guerreiros e colonos portugueses desembarcados em 1532 e, a seguir, aos jesuítas, que começaram a chegar em 1552.

Luiz César de Menezes, governador do Rio de Janeiro, mandava dizer a D. Pedro II (1691): – “Os moradores de São Paulo vivem como quase à lei da natureza e não guardam mais ordens que aquela que convém a sua conveniência...” Era voz geral!


Pelo sabido a respeito de algumas bandeiras, e particularmente pelo caso do enforcamento de José Paes, ordenado por Fernão Dias, no Sumidouro, como castigo de grave felonia, já se poderia suspeitar que os sanguinários heróis paulistas não podiam viver assim à lei da natureza.


A publicação das atas e do Registro Geral da Câmara de São Paulo, das Sesmarias, Inventários e Testamentos, cerca de 80 grandes volumes, hoje entregues aos estudiosos graças a Washington Luís, veio esclarecer muitos pontos da vida dos primeiros habitantes da cidade da garoa. Os vossos livros, entre os quais não quero esquecer a notável História da Cidade de São Paulo, os de Élis, o de Alcântara Machado, os de Paulo Prado – bastam como informantes de quem queira fazer juízo acerca do meio social em que se criavam os heróis sangrentos e cúpidos.



Não há mais que citar uns três ou quatro episódios, como o de 1623 quando a Câmara resolveu a deportação dos Homens de “boca ruim” que difamavam os homens honrados. Também o episodio de 10 de janeiro de 1634 no qual a mesma Câmara obrigava os vadios que não tinham oficio a tomarem um amo ou abandonarem a terra. No mesmo ano, Dona Benta Dias foi obrigada a mandar colocar uma porta na sua casa, que ela desejava aberta à “tout venant”... Exixtiu também um certo Custódio de Souza Tavares, curandeiro de larga freguesia, que foi forçado a deixar sua clínica, por não ter carta de examinação.

Estas são provas de policiamento social incompatível com a fama geral dos paulistas. Há, porém, um documento que fala por si só, visto que nele se requinta uma preocupação que já vai desaparecendo nas cidades modernas: a 10 de janeiro de 1634, Sebastião de Paiva levou à Câmara o eco de alguns murmúrios públicos. Diziam que tinha um banco reservado no meio da igreja e seus homens tomavam conta, não deixando que ninguém sentasse. Durante as cerimônias, Suas Mercês os oficiais, “com grande prejuízo e escândalo do povo por se tratarem mal às mulheres” – obrigava-as a se sentar no chão.
Que solução os membros do Governo Municipal daquela vila, povoada por demônios acharam? Não podendo atender a todas as senhoras... Mandaram retirar o banco, privando-se a todos de tal conforto, em gesto de cavalheiro.

Sanguinários, sim; mas honrados e organizadores. E, na guerra uma república de salteadores não seria capaz de construir a obra durável da nossa formação territorial.

Encontro ainda uma confirmação do que penso a respeito da influência moral já citada, na transcrição que fazem das seguintes linhas, em que Pedro Taques, retratando o criminoso, explica o célebre crime de Alberto Pires: “nele não lavrou o buril da discrição de seus pais com a polícia em que criaram seus filhos, civilizando-os com a doutrina das escolas dos pátios dos jesuítas do Colégio de São Paulo.”

O impulso do século XVII foi decisivo.

Vejo, em admirável continuidade histórica, o drama do descobrimento até hoje prosseguido; a sementeira das povoações ganhando sempre, cada vez mais, os recessos distantes; os trilhos e os caminhos cada vez mais emaranhados, enlaçando novas regiões.



Pelo que aí fica, Sr. Quatrocentão, podeis ver que, se não estou sempre de perfeito acordo convosco, sou sempre um vosso humilde editor maravilhado pelo carinho e pela consciência, com que tomais parte no grande e nobre movimento intelectual que é, na República, a história dos brasileiros que conquistaram o Brasil.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tudo sobre as capivaras que chegaram na Marginal Pinheiros



A primeira vez que vi as capivaras na Marginal do rio Pinheiros foi em 2002, a bordo do novo trem da CPTM próximo a estação Berrini vindo de Presidente Altino. Achei espantoso ver aqueles animais nadando onde nem mesmo mergulhadores experientes, protegidos por um coquetel de vacinas, com trajes de proteção se arriscam a nadar, em contraste com a nova arquitetura que crescia na região.

No final do século XIX a região da Berrini era um pântano, habitat natural para as capivaras. Naquela época a rua Brejo Alegre servia como um canal de drenagem para o brejo aonde encontra-se hoje a Avenida Luiz Carlos Berrini.

Até a construção das novas estações da Linha 9 da CPTM pelo arquiteto Luiz Esteves, da Harza Hidrobrasileira Arquitetura e Projetos, a região ainda mantinha áreas verdes porem muito poluídas. Luiz afirmava na época que a Marginal Pinheiros naquele trecho “era um dos poucos espaços da cidade com essa perspectiva”, o seu objetivo era “construir o mínimo possível e dispensar tudo o que pudesse ser retirado”.

Essa filosofia inteligente e pratica talvez tenha sido o ponto determinante para o convívio da bela arquitetura e o retorno dos animais a região.

Porque as capivaras voltaram a esta região?

As teorias são muitas, uma diz que elas vieram do Parque Ecológico do Tietê, área de proteção ambiental com 12,5 milhões de m² entre os municípios de São Paulo, Itaquaquecetuba e Guarulhos.

O biólogo do Ibama Vincent Kurt Lo, sustenta que elas migraram das represas Guarapiranga e Billings. Os animais chegaram às marginais usando diversos caminhos, até mesmo pela rede de galerias de esgoto.

Existe ainda aquela teoria que diz que as opções de moradia das capivaras da região de Alphaville foram se deteriorando. Além da várzea do rio Tietê, podiam contar com os gramados verdes do centro de lazer Ilha do Tamboré, todavia, o loteamento para construção de áreas residenciais da região fez com que as capivaras migrassem.

O que de fato sabemos que o Projeto Pomar teve uma grande influencia no seu retorno. Uma iniciativa conjunta do governo estadual em parceria com onze empresas privadas, o Projeto Pomar tem objetivo de transformar os 14 quilômetros de margens em um grande jardim. Elas chegaram em 1999, no mesmo ano que o Projeto Pomar começou com a cobertura paisagística da margem esquerda do rio.

Ricardo Borsari, superintendente do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), explica que o excesso de capivaras se deve à facilidade de encontrar alimento e à falta de predadores naturais. "as capivaras se alimentam de plantas, a comida é farta e predadores, como onças, jacarés e cobras são praticamente inexistentes".

As capivaras encontram novos predadores

Realmente é muito difícil que um jacaré chegue até o rio Pinheiros para atacar as capivaras, no entanto um novo leque de situações pode colocar as capivaras em risco.

O biólogo do projeto Pomar Alexandre Soares suspeita que moradores da favela do Jaguaré e funcionários de obras que ficam próximas ao rio caçam os animais para comer. O abate a capivaras e crime segundo a Lei 5.197/7 (Brasil 1967) que proíbe a caça e determina que animais silvestres são de propriedade do Estado.

Outro risco é o de atropelamentos por carros nas pistas da marginal "Em 2005, pelo menos dez motoristas nos telefonaram para falar que passaram por cima desses animais", diz Soares.

Segundo Rossana Borioni, analista ambiental do Ibama, a solução para este risco seria colocar cerca, alambrado ou qualquer tipo de barreira física que impeça a entrada dos animais na pista. "Elas podem causar acidentes graves. Na marginal, os carros vêm em alta velocidade, e a capivara não é um animal pequeno", diz Borioni.

Já estiveram no rio Tietê

Quem passa pela Marginal Tietê já não vê as capivaras que viviam por ali. Os animais foram retirados de lá num plano de manejo realizado em 2002 e coordenado pelo Ibama.

A ação foi feita por uma parceria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), (DAEE) e Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura (DEPAVE). Os animais foram removidos em razão das obras de rebaixamento da calha do rio, que eliminou a vegetação do local.

Foi contratada a empresa Pró-Fauna, especializada em animais silvestres, para monitorar as cercas de contenção e as armadilhas conhecidas como bretes (cercados de madeira que permitem a entrada - e impedem a saída - das capivaras). Como resultado cerca de cem mamíferos foram levados para um ambiente menos insalubre, a unidade Engenheiro Goulart do Parque Ecológico do Tietê.

Até então existia muito mais capivara nas margens do Tietê do que nas do rio Pinhieros.
Precisamos conhecer melhor nossa parceira

ORDEM: Rodentia
FAMÍLIA: Hydrochaeridae
NOME CIENTÍFICO: Hydrochoerus hydrochoeris
NOME COMUM: Capivara (Brasil e Paraguai)
OUTROS NOMES: Carpincho (Argentina); chiguiro (Colômbia); chiguire (Venezuela).
NOME EM INGLÊS: Capybara
TEMPO DE VIDA: 10 a 12 anos

Num maravilhoso trabalho Gustavo Romeiro Mainardes Pinto, vem desenvolvendo um sistema de contagem e monitoramento de capivaras não só na marginal, mas em outras partes do território nacional (vale lembrar que a capivara pode ser encontrada do Panamá ao Uruguai, no noroeste da Argentina a altitudes de 1500m e em outros centros urbanos, como as famosas capivaras da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro).

Alem da contagem direta Gustavo usa o método de contagem de fezes do animal medindo a distância perpendicular entre montículo de fezes, como método alternativo e complementar.

Porem nenhum dos métodos apresentou resultados satisfatórios, José Raimundo, de 31 anos, barqueiro habituado a navegar pelo rio Pinheiros há mais de 8 anos afirma que existem cerca de 70 animais.

O bom é vê-las livres porem, as capivaras podem ser criadas em cativeiros, a portaria 118-N/1997 do IBAMA regulamenta os criadouros comerciais. Num estudo feito de 1985 a 1998 pelo Centro Interdepartamental de Zootecnia e Biologia de Animais Silvestres (CIZBAS), do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiros” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) chegou a algumas conclusões interessantes.

Animal dócil e de fácil habituação ao contato com humanos as capivaras são animais sociais, vivem em grupos de 3 a 14 indivíduos em média, tem alta eficiência reprodutiva (dois partos por ano 4 filhotes por parto gestação de 150 dias) e alimentação de baixo custo. Não é muito fácil diferenciar os machos das fêmeas, os testículos ficam aderidos internamente ao abdômen, a glândula sebácea e mais proeminente nos machos, mas também aparecem nas fêmeas grávidas, a única forma de sexagem é a exposição manual do órgão.

A principal conclusão do estudo revela que o cativeiro não influi na conservação das populações, elas têm comportamento social bastante complexo o que inviabiliza economicamente sua estadia em cativeiros, e pode ser um problema de saúde publica.

Vale lembrar que as capivaras são hospedeiras do carrapato que transmite a febre maculosa. Entretanto, segundo a Covisa (Coordenadoria de Vigilância Sanitária do município), não há nenhum caso da doença na cidade relacionado ao roedor. Mesmo assim, os animais do Horto Florestal, onde uma garota foi picada por carrapato em 2005 e morreu estão sob análise.

domingo, 16 de agosto de 2009

Avenida Paulista


Visitada por ratos de esgoto a Capivara Paulistana aprende sobre como é a vida da conturbada avenida Paulista. Concebida pelo engenheiro Joaquim Eugênio de Lima a avenida Paulista tinha o objetivo de criar novas áreas residenciais uma vez que Higienópolis, Praça da Republica e Campos Elíseos estavam completamente ocupados.

Desde sua inauguração em 08 de dezembro de 1891 a avenida Paulista não parou de prosperar, mas parece que sempre teve problemas com poluição. Logo depois da construção da avenida vieram à tona leis que desviavam o tráfego de muares e animais de carga devido ao grande volume de esterco depositado na via carroçável e o poder público não dava conta da limpeza, foi então que tiveram a idéia de desviar o transito pela ladeira da alameda Santos e o excremento rolava ladeira abaixo.

A avenida foi loteada com o propósito de atrair grandes palacetes, com regras claras quanto ao espaçamento entre as casas e a largura da própria via, o que de forma inédita até então, possibilitou a construção de uma avenida mais larga. Com a chegada dos veículos motorizados a avenida foi uma das primeiras do Brasil a ser asfaltada em 1909 com material importado da Alemanha, causando a inveja de cidadãos dos Estados Unidos e Europa.

Passou a receber a construção de prédios (os Espigões) em 1952 e em 1973 a avenida Paulista ganhou muito da cara que vemos hoje com o projeto da Nova Paulista. Durante administração de Figueiredo Ferraz (1971-1973) este projeto previa uma linha de metrô e uma via expressa subterrânea ao longo de todo o espigão da Paulista. Na administração Miguel Colasuonno de 1973 a 1975, o projeto assumiu uma feição bem mais modesta, tivemos basicamente o alargamento da avenida de 28 para 48 metros, um projeto paisagístico assinado por Rosa Kliass e de sinalização visual assinado pelo escritório Cauduro Martino.

Com o propósito de eliminar os muitos elementos de conflito no visual da avenida, João Carlos Cauduro e Ludovico Martino padronizaram as placas de sinalização, além de medidas como enterramento da fiação elétrica e telefônica. Na época, o sistema de grandes prismas verticais negros (os totens de sinalização) era inovador, com a disposição da sinalização estudada para orientação de pedestres e de veículos; com os sinais para pedestres marcados até a altura de 2,50 metros de altura, informações de média distancia até 3,50 metros de altura e acima disto a sinalização de longa distancia para os veículos da via, os semáforos foram embutidos nos prismas e o totem propiciava a colocação de placas de transito.

Totens da Avenida Paulista - João Carlos Cauduro e Ludovico Martino 1973
Vida Subterrânea

Como herança destes projetos temos hoje túneis subterrâneos concebidos para a passagem de ônibus e veículos.

Existem hoje mais de 800 tubulões de concreto e aço (espécie de estrutura usada em fundações de obras) enterrados sob a Avenida Paulista.

Um desperdício financeiro posto que, nas proximidades do parque do Trianon o metro quadrado da região custa no mínimo R$ 2.200. Já em um edifício novo e sofisticado esse valor pode chegar a R$ 8.000 (o metro quadrado mais caro do Brasil é a avenida Viera Souto em Ipanema R$ 25.000,00).

Outro uso importante do subsolo foi quando em 1991 concluiu-se o primeiro trecho da linha dois do Metrô (Linha Verde do Metrô) que ligava Paraíso a Consolação. Em 1998, após algumas extensões, a linha operava entre Ana Rosa e Vila Madalena, a maior extensão no Oeste da linha até o momento.

A futura Linha quatro (Linha Amarela do Metrô), que compreenderá o trecho definido pelas estações Luz e Vila Sônia, com uma estação na Avenida Paulista está em construção, com a entrega das obras previstas para serem entregues gradualmente entre fevereiro de 2010 e 2012.

sábado, 11 de julho de 2009

Capivara Paulistana sente saudade do Aeroanta


Passando pelas obras do Metrô ali onde era o Largo da Batata no bairro de Pinheiros a Capivara sente saudade de seu amigo Aeroanta que morou no clássico endereço da rua Miguel Isasa numero 404.

O Aeroanta foi um marco do final dos anos 80 e inicio dos 90. Um bar com palco para shows com capacidade para até 1000 lugares com boa infra-estrutura, ideal para tocar. Era comum a banda que estava tocando descer à pista de dança quando acabava o show para dançar com a galera. São Paulo talvez nunca teve um berçário tão eficaz para fazer surgir novas bandas como o Aeroanta.

Entre as bandas que posso lembrar constam: Mulheres Negras, Que Fim Levou Robim, Rock Memory, Skowa e a Máfia, Vulkanas, Utopia, Pink Floyd Cover, Police Cover, Sex Fanzine, U2 Cover, Tubaina do Demonio, Ira e o Lagoa 66 (acho que foi a banda que inaugurou o palco do Aeroanta em 1988), uma espécie de banda tapa buracos, todas as vezes que alguma banda furava, lá ia o Lagoa.

Teve também um pessoal da zona norte que criou a banda Ghetto, que se apresentou lá diversas vezes, fez um sucesso repentino e depois sumiu. A banda Vexame com a escachada Mariza Orth que deitava no chão e gritava muito. Outros lembrados até hoje por gente da minha geração são: Marisa Monte e Ed Mota, o show do Cazuza com a direção de Ney Matogrosso, etc.

Aconteciam umas coisas estranhas lá, teve até um show do De Falla que foi assistido por ninguém menos que Nick Cave (acho que estava perdido pelo Aeroanta).

Em alguns dias da semana eles mudavam a programação para “Aerojam” e “Aeroreggae”, tinha até peças de teatro.

Uma grande estrela revelada no Aeroanta foi Regina Casé, no monologo "Nardja Zulpério", escrito e dirigido por Hamilton Vaz Pareira. A primeira temporada da peça ficou poucos meses em cartaz, porque Regina estava grávida de sua filha Benedita.

O Aeroanta foi criado por cinco sócios, entre eles Alexandre Negrão ( Piranha 1980, Olívia e Lanterna), Betão Pandiani que também foi sócio do Singapura, Clube Base, Olivia e Mr. Fish, entre outros. Betão deixou o entretenimento no final dos anos 90 e assumiu a vela como esporte.

Os sócios pretendiam cativar intelectuais que na década de 80 se reuniam no Empanadas do bairro de Pinheiros e do Frango na Freguesia do O.

Podemos comparar o Aeroanta com outras baladas clássicas de São Paulo como Bar do Leo e Brahma na década de 40, Bares Elidio na Mooca, Jabuti na Vila Mariana da década de 60 e o Galery nos anos 70.

Tinha dois ambientes com um mezanino. O ar condicionado estava sempre mal regulado, o que fazia o chope vender a rodo.

O Aeroanta fechou em 1994 logo depois começaram as obras de expansão da Faria Lima, e até a clássica rua Miguel Isasa sumiu do mapa.

O final da balada era sempre selada com o “suspeito, porém gostoso” cachorro-quente do Chernobil. Um tiozinho bem simpático que ficava com o seu carrinho na porta até as 06:00 da manhã.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O lema de São Paulo - Non Ducor Duco – “Não sou conduzido, conduzo”


Em 1916 o então prefeito da cidade de São Paulo Washington Luís Pereira organizou um concurso para criação de um brasão. O ganhador foi o jovem poeta Guilherme de Almeida, formado em Direito com a ajuda do desenhista José Wasth Rodrigues em 1917. No brasão um escudo com um braço empunhando a bandeira da cruz de malta (símbolo da Ordem de Cristo) usada pelos navegantes portugueses que simbolizava a fé cristã. Sobre ele, há uma coroa, também uma alusão ao governo lusitano. As laterais são adornadas por ramos de café (referencia a economia cafeeira que levou a cidade a sua prosperidade). A divisa Non ducor duco quer dizer “Não sou conduzido, conduzo”, valoriza a independência das ações desenvolvidas pela cidade e seu papel de liderança no Estado e no país. Foi inicialmente aceito como símbolo da cidade em 8 de Março de 1917.

A Lenda da Capivara Paulistana



Diz a lenda que Pero Corrêa e Manuel Chaves, grandes conhecedores da língua tupi que acompanhavam José de Anchieta e Manoel da Nóbrega em sua missão de catequização de índios na região do Planalto de Piratininga, ouviram um índio velho e sábio quando conversava com uma capivara.

Ao se aproximarem perceberam que a capivara parecia interagir com o sábio que expressava uma forte alegria e olhava para cima com ar de admiração. Ao ser indagado pelos viajantes o sábio revelou que a capivara fora instruída pelo Grande Espírito da Floresta a indicar o lugar que fora designado para ser o centro de prosperidade de uma grande nação com arvores de luz que se multiplicariam na cor cinza e centralizaria o grande conhecimento universal sob fina garoa, prometeu que ali seria um local sagrado livre das feras da floresta e das intempéries do tempo e que seria também o local ideal para os homens se concentrarem apenas em fazer prosperar e crescer o bem e a harmonia.

Corrêa e Chaves perceberam que quanto mais o homem falava, tanto mais suas forças se esvaiam, aqueles pareciam ser os últimos minutos de vida do sábio. O velho homem forneceu todos os detalhes da construção e da localização de um centro de aprendizado, ele designou a capivara para guiá-los em sua missão e pediu para que se apressassem. A dupla então acompanhou a capivara, Pero Corrêa olhou para traz e ficou abismado com o que via enquanto se embrenhava no mato. O Sábio índio olhou para o norte logo em seguida para o sul, levantou os olhos como se fizesse sua ultima prece em então se deitou em nicho de pedras enquanto capivaras saiam do mato de todas as direções para se juntarem ao redor do homem enquanto ele morria.

Impelidos pelo acontecimento de grande magia nem sequer cogitaram a hipótese de não respeitar as instruções que lhes foram dadas. No caminho os dois discutiam como convenceriam Manoel da Nóbrega e José de Anchieta a aceitar as indicações do índio sem macular os dogmas da igreja e decidiram dizer que a indicação da construção do colégio fora feita após uma visão de São Paulo Apostolo.

A capivara se entristece com a descrença dos dois homens no sábio e no Grande Espírito da Floresta, mas ainda assim, chorando muito, guia os homens que nem se davam conta da tristeza do humilde animal, até o terreno onde deveria ser construído o colégio.

O local era perfeito, ficaram animados por encontrar várias famílias cujos filhos estudavam no litoral acharam que Anchieta e Nóbrega não recusariam frente a argumentos tão bons.

Foi então que os jesuítas chefiados por Manoel da Nóbrega foram diretamente à casa de João Ramalho e sua esposa Bartira, filha do cacique Tibiriçá , em Santo André da Borda do Campo, onde pernoitaram. No dia seguinte, ao romper da madrugada, tomaram o caminho de Piratininga, onde chegam manhã alta. Padre Nóbrega designa o Padre Manoel de Paiva para celebrante da missa de 25 de janeiro de 1554, no alto do Inhapuambuçu. Serve-lhe de acólito o irmão José de Anchieta. Padre Paiva eleva o cálice do sacrifício. Anchieta retine a campainha cujo eco parece alertar os animais da floresta e as forças da natureza para o grande evento. E Manoel da Nóbrega, com os olhos no céu, pede as bênçãos de Deus para o Real Colégio Nascente.

Satisfeitos em suas missões Pero Corrêa e Manoel Chaves celebram felizes na floresta quando então a capivara surge da relva possuída pelo Grande Espírito da Floresta e diz:

“Sou-lhes grato por seguirem minhas instruções, foi dado inicio à seqüência de acontecimentos que farão desta terra um centro de prosperidade, porem, cometeram um grave erro; menosprezaram minha humilde fiel capivara e os conhecimentos dos povos locais. Como punição os habitantes desta cidade nunca serão senhores da terra, terão o compromisso de viver lembrando sempre que esta cidade pertence à natureza, e cada vez que desrespeitarem as leis da terra serão castigados pela própria terra. Se cobrirem a terra rocha e boa com matéria cinza terão enchentes provocadas por cinzas nuvens que os asfixiarão até ficarem roxos. Se poluírem os fluidos rios com matéria parda, terão que respirar o ar fétido e insalubre da matéria parda de seus próprios fluidos. A cada agressão que cometem contra a terra que lhes cedi a própria terra haverá de puni-los e esta humilde capivara que vos fala haverá de lembrá-los com sua própria presença e fiscalização tudo o que aqui foi dito. Quanto mais respeitarem a capivara e o que ela simboliza tanto mais prosperidade e beleza vos será concedida”..

domingo, 31 de maio de 2009

Capivara descobre a cidade planejada de Prestes Maia


Ao visitar parentes próximos que habitam a concretada Marginal Tiete, a capivara paulistana se impressiona com a Ponte das Bandeiras e antes mesmo que pergunte sua prima responde:

- Esta é a Ponte das Bandeiras. Não é só mais uma via de circulação na cidade de São Paulo. É, na verdade, um marco da vontade de progresso que contagiou a sociedade paulistana na primeira metade do século XX e seu principal mentor foi sem duvida Prestes Maia.

Prestes Maia cursou Humanidades no Ginásio de São Bento, da capital paulista. Formou-se em 1917, pela Escola Politécnica de São Paulo em engenharia civil e arquitetura. Foi membro do Instituto de Engenharia, da Sociedade de Arquitetos de Lisboa, da Sociedade de Arquitetos do Uruguai, etc. Entre seus trabalhos citam-se: "Estudos de um Plano de Avenidas para a cidade de São Paulo", Edições melhoramentos, 1930, "O Zoneamento Urbano", São Paulo, Ed. Sociedade Amigos da Cidade, 1936, "São Paulo, Metrópole do século XX", São Paulo Ed. Prefeitura Municipal, 1945, "Insolação Escolar" e "Plano Regional de Santos", 1950.

Infelizmente para São Paulo a “prestemaianização” não aconteceu da mesma forma que a “haussmannização” parisiense (o projeto de modernização e embelezamento estratégico da cidade de Paris realizado pelo Barão de Haussmann, o “artista demolidor” de 1862 a 1875).

No ano de 1930 Prestes Maia e Ulhôa Cintra esboçam um sistema viário para São Paulo. O Plano de Avenidas de Prestes Maia concebe um complexo de vias radio-perimetrais contornando a mancha urbanizada da cidade. As avenidas marginais Pinheiros e Tietê completariam, junto com o Ipiranga e o vale do Tamanduateí, o traçado esquemático de um círculo. Esse programa viário foi denominado pelos dois como perímetro de irradiação. O sistema era composto de parkways, avenidas que interligavam parques, procurando integrar linhas de circulação com as áreas verdes. Prestes Maia o circuito de parkways da seguinte forma:

"É uma orientação americana, moderna e feliz, a de ligar entre si os parques duma cidade por meio de avenidas amplas que conservam alguns caracteres que lembram os parques, tais como arborização, ajardinamento, casas afastadas, etc."

Foi prefeito da cidade de São Paulo, cargo ao qual foi guindado pelo Governo do Estado que se estendeu de 9 de março de 1938 a 10 de novembro de 1945, tendo voltado a exercer tais funções em 8 de abril de 1961, com mandato de mais quatro anos.

Durante sua gestão na Prefeitura, deu prosseguimento à construção do Estádio Municipal da Prefeitura, projetou e abriu as avenidas Duque de Caxias, Nove de Julho, Ipiranga, Conceição, Vieira de Carvalho, São Luís, Anhangabaú, as praças Roosevelt e Clóvis Beviláqua. Construiu a ponte das Bandeiras, a Biblioteca Municipal, a Galeria Prestes Maia, alguns viadutos com exceção dos de Santa Ifigênia e do Chá.

A Capivara realmente acredita que nunca mais tivemos prefeitos tão pró-ativos, visionários, com tão bom gosto e principalmente tão honestos nesta cidade e concorda com Monteiro Lobato que certa vez disse:

"Para mim, só dois homens que já exerceram funções públicas demonstraram essa honestidade absoluta: José Américo (o escritor que foi governador da Paraíba) e Prestes Maia. Todos os demais são relativamente honestos, inclusive eu."
Monteiro Lobato, 1946.

“As melhores administrações limitam suas preocupações às obras municipais e, frequentemente, julgam que estão fazendo urbanismo quando fazem simples engenharia.” Discurso de Francisco Prestes Maia (Amparo, 19 de março de 1896 — São Paulo, 26 de abril de 1965) em 1935.