segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ecologia Urbana



Não faz muito tempo, fui correr no Ibirapuera, logo cedo, quando o parque havia acabado de abrir. Percebi uma agitação na lata de lixo, me aproximei e encontrei um Saruê armadilhado lá.

Imediatamente achei uma funcionaria da limpeza do parque, para que ela me ajudasse a tira-lo de lá (as lixeiras ficam presas em posição vertical). Ela disse que tem muito Saruê no parque e que é bastante comum o bicho entrar no lixo para apanhar comida e depois não conseguir mais sair.

O Saruê ou gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) é uma espécie de gambá que habita o Brasil, Argentina e Paraguai. Pode atingir de 60 a 90 centímetros de comprimento e pesar até 1,6 kg, são ótimos arboristas, alimentam-se praticamente de tudo o que encontram: insetos, larvas, frutas, pequenos roedores, ovos, cobras e etc. Como qualquer outro gambá, possui uma glândula que exala odor desagradável na região do ânus. A fêmea possui no ventre o marsúpio, bolsa formada pela pele do abdômen onde encontram-se 13 mamas.

Apesar de existirem em grande numero no meio urbano (numero muito maior do que as capivaras), pouco vemos estes animais. Tem funcção importante no meio ambiente no que diz respeito ao controle de populações de roedores e são dispersores de sementes. Habitam florestas, regiões cultivadas e áreas urbanas e em toda a mata atlântica e restinga brasileira.

São animais como este que nos ajudam a filosofar mais sobre o papel da Ecologia Urbana, afinal, também somos animais que por acidente nasceram em ambiente urbano.

A interação que o Saruê tem com o meio urbano não é diferente da forma que as moscas, os pés de mamona, as pombas, o dente de leão, os urubus, etc. encontraram para se adaptarem às cidades. Estes de certa forma executam pequenas mudanças para restaurar o ambiente florestal; o dente de leão nasce nas rachaduras do cimento das calçadas; o urubu come os animais mortos (muitas vezes atropelados nas vias), o próprio saruê poliniza as diversas espécies de arvores que nascem em lugares inesperados. Nos, por outro lado, expandimos as áreas asfaltadas e fazemos as cidades crescerem sem planejamento ambiental para nossos filhos também nascerem por acidente na selva urbana.

Estima-se que até 2030, 60% da população mundial viverá em um ambiente metropolitano. Neste sentido é muito importante que as pessoas se eduquem e se engajem em atividades ecológicas, seja no estudo das aves locais, testando a qualidade dos recursos hídricos da área, limpando terras devolutas para criar parques e jardins, ou a plantando e cuidando de árvores nas ruas. A nossa única saída para que possamos viver num ambiente metropolitano sem causar maiores danos ao planeta é o estudo e aplicação da Ecologia Urbana.

Ecologia Urbana é um ramo da ecologia que trata da interação entre organismos vivos em uma comunidade urbana ou urbanizada, e sua interação com a comunidade.

Ecologistas urbanos estudam as árvores, rios, vida selvagem e os espaços abertos encontrados nas cidades para entender a extensão desses recursos e a forma como eles são afetados pela poluição, excesso de desenvolvimento e outras pressões.

A análise dos ambientes urbanos no contexto da ecologia do ecossistema (considerando a ciclagem de matéria e fluxo de energia através do ecossistema) pode vir a nos ajudar a projetar uma comunidade mais saudável e melhor administrada, por entender as ameaças do ambiente urbano para os seres humanos.

Há uma ênfase no planejamento das comunidades com um design ecológico, utilizando materiais de construção alternativos e métodos com a finalidade de promover um ecossistema saudável e biodiversidade urbana.

Um bom exemplo de como integrar a natureza aos centros urbanos é proposto pelo escritório de Howeler + Yoon Architecture http://www.hyarchitecture.com de Bostom em parceria com Squared Design Lab de Los Angeles http://www.squareddesignlab.com . O Edifício de Eco Pods é uma estrutura conceitual onde um edifício inacabado é coberto com pods modulares, próprios para a criação de algas para bio-combustível.

Os pods são continuamente rearranjados por braços robóticos (a energia para movimentação dos braços vem das próprias micro-algas) para colocá-los na melhor posição possível de aproveitamento de luz solar.

A micro-alga é atualmente umas das culturas mais promissoras para fornecimento de bio-combustível, rende cerca de trinta vezes mais energia por hectare do que qualquer outra cultura.

Alem disso, estas algas, ao contrário de outras culturas, podem crescer verticalmente e em terras não aráveis, são biodegradáveis e podem ser o único método viável para produzir combustível suficiente para substituir o uso de óleo diesel dos automóveis atuais. Para alimentar estas algas usa-se açúcar e celulose e elas ainda ajudam a reduzir as emissões de dióxido de carbono, uma vez que substituem CO2 por oxigênio durante a fotossíntese.

A produção de energia através de micro-algas bem como o Edifícios de Eco Pods ainda está em fase de testes mas é sem duvida uma boa dica de como podemos viver em parceria com a natureza e ter uma coexistência pacifica.