domingo, 23 de agosto de 2009

Tudo sobre as capivaras que chegaram na Marginal Pinheiros



A primeira vez que vi as capivaras na Marginal do rio Pinheiros foi em 2002, a bordo do novo trem da CPTM próximo a estação Berrini vindo de Presidente Altino. Achei espantoso ver aqueles animais nadando onde nem mesmo mergulhadores experientes, protegidos por um coquetel de vacinas, com trajes de proteção se arriscam a nadar, em contraste com a nova arquitetura que crescia na região.

No final do século XIX a região da Berrini era um pântano, habitat natural para as capivaras. Naquela época a rua Brejo Alegre servia como um canal de drenagem para o brejo aonde encontra-se hoje a Avenida Luiz Carlos Berrini.

Até a construção das novas estações da Linha 9 da CPTM pelo arquiteto Luiz Esteves, da Harza Hidrobrasileira Arquitetura e Projetos, a região ainda mantinha áreas verdes porem muito poluídas. Luiz afirmava na época que a Marginal Pinheiros naquele trecho “era um dos poucos espaços da cidade com essa perspectiva”, o seu objetivo era “construir o mínimo possível e dispensar tudo o que pudesse ser retirado”.

Essa filosofia inteligente e pratica talvez tenha sido o ponto determinante para o convívio da bela arquitetura e o retorno dos animais a região.

Porque as capivaras voltaram a esta região?

As teorias são muitas, uma diz que elas vieram do Parque Ecológico do Tietê, área de proteção ambiental com 12,5 milhões de m² entre os municípios de São Paulo, Itaquaquecetuba e Guarulhos.

O biólogo do Ibama Vincent Kurt Lo, sustenta que elas migraram das represas Guarapiranga e Billings. Os animais chegaram às marginais usando diversos caminhos, até mesmo pela rede de galerias de esgoto.

Existe ainda aquela teoria que diz que as opções de moradia das capivaras da região de Alphaville foram se deteriorando. Além da várzea do rio Tietê, podiam contar com os gramados verdes do centro de lazer Ilha do Tamboré, todavia, o loteamento para construção de áreas residenciais da região fez com que as capivaras migrassem.

O que de fato sabemos que o Projeto Pomar teve uma grande influencia no seu retorno. Uma iniciativa conjunta do governo estadual em parceria com onze empresas privadas, o Projeto Pomar tem objetivo de transformar os 14 quilômetros de margens em um grande jardim. Elas chegaram em 1999, no mesmo ano que o Projeto Pomar começou com a cobertura paisagística da margem esquerda do rio.

Ricardo Borsari, superintendente do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), explica que o excesso de capivaras se deve à facilidade de encontrar alimento e à falta de predadores naturais. "as capivaras se alimentam de plantas, a comida é farta e predadores, como onças, jacarés e cobras são praticamente inexistentes".

As capivaras encontram novos predadores

Realmente é muito difícil que um jacaré chegue até o rio Pinheiros para atacar as capivaras, no entanto um novo leque de situações pode colocar as capivaras em risco.

O biólogo do projeto Pomar Alexandre Soares suspeita que moradores da favela do Jaguaré e funcionários de obras que ficam próximas ao rio caçam os animais para comer. O abate a capivaras e crime segundo a Lei 5.197/7 (Brasil 1967) que proíbe a caça e determina que animais silvestres são de propriedade do Estado.

Outro risco é o de atropelamentos por carros nas pistas da marginal "Em 2005, pelo menos dez motoristas nos telefonaram para falar que passaram por cima desses animais", diz Soares.

Segundo Rossana Borioni, analista ambiental do Ibama, a solução para este risco seria colocar cerca, alambrado ou qualquer tipo de barreira física que impeça a entrada dos animais na pista. "Elas podem causar acidentes graves. Na marginal, os carros vêm em alta velocidade, e a capivara não é um animal pequeno", diz Borioni.

Já estiveram no rio Tietê

Quem passa pela Marginal Tietê já não vê as capivaras que viviam por ali. Os animais foram retirados de lá num plano de manejo realizado em 2002 e coordenado pelo Ibama.

A ação foi feita por uma parceria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), (DAEE) e Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura (DEPAVE). Os animais foram removidos em razão das obras de rebaixamento da calha do rio, que eliminou a vegetação do local.

Foi contratada a empresa Pró-Fauna, especializada em animais silvestres, para monitorar as cercas de contenção e as armadilhas conhecidas como bretes (cercados de madeira que permitem a entrada - e impedem a saída - das capivaras). Como resultado cerca de cem mamíferos foram levados para um ambiente menos insalubre, a unidade Engenheiro Goulart do Parque Ecológico do Tietê.

Até então existia muito mais capivara nas margens do Tietê do que nas do rio Pinhieros.
Precisamos conhecer melhor nossa parceira

ORDEM: Rodentia
FAMÍLIA: Hydrochaeridae
NOME CIENTÍFICO: Hydrochoerus hydrochoeris
NOME COMUM: Capivara (Brasil e Paraguai)
OUTROS NOMES: Carpincho (Argentina); chiguiro (Colômbia); chiguire (Venezuela).
NOME EM INGLÊS: Capybara
TEMPO DE VIDA: 10 a 12 anos

Num maravilhoso trabalho Gustavo Romeiro Mainardes Pinto, vem desenvolvendo um sistema de contagem e monitoramento de capivaras não só na marginal, mas em outras partes do território nacional (vale lembrar que a capivara pode ser encontrada do Panamá ao Uruguai, no noroeste da Argentina a altitudes de 1500m e em outros centros urbanos, como as famosas capivaras da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro).

Alem da contagem direta Gustavo usa o método de contagem de fezes do animal medindo a distância perpendicular entre montículo de fezes, como método alternativo e complementar.

Porem nenhum dos métodos apresentou resultados satisfatórios, José Raimundo, de 31 anos, barqueiro habituado a navegar pelo rio Pinheiros há mais de 8 anos afirma que existem cerca de 70 animais.

O bom é vê-las livres porem, as capivaras podem ser criadas em cativeiros, a portaria 118-N/1997 do IBAMA regulamenta os criadouros comerciais. Num estudo feito de 1985 a 1998 pelo Centro Interdepartamental de Zootecnia e Biologia de Animais Silvestres (CIZBAS), do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiros” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) chegou a algumas conclusões interessantes.

Animal dócil e de fácil habituação ao contato com humanos as capivaras são animais sociais, vivem em grupos de 3 a 14 indivíduos em média, tem alta eficiência reprodutiva (dois partos por ano 4 filhotes por parto gestação de 150 dias) e alimentação de baixo custo. Não é muito fácil diferenciar os machos das fêmeas, os testículos ficam aderidos internamente ao abdômen, a glândula sebácea e mais proeminente nos machos, mas também aparecem nas fêmeas grávidas, a única forma de sexagem é a exposição manual do órgão.

A principal conclusão do estudo revela que o cativeiro não influi na conservação das populações, elas têm comportamento social bastante complexo o que inviabiliza economicamente sua estadia em cativeiros, e pode ser um problema de saúde publica.

Vale lembrar que as capivaras são hospedeiras do carrapato que transmite a febre maculosa. Entretanto, segundo a Covisa (Coordenadoria de Vigilância Sanitária do município), não há nenhum caso da doença na cidade relacionado ao roedor. Mesmo assim, os animais do Horto Florestal, onde uma garota foi picada por carrapato em 2005 e morreu estão sob análise.

domingo, 16 de agosto de 2009

Avenida Paulista


Visitada por ratos de esgoto a Capivara Paulistana aprende sobre como é a vida da conturbada avenida Paulista. Concebida pelo engenheiro Joaquim Eugênio de Lima a avenida Paulista tinha o objetivo de criar novas áreas residenciais uma vez que Higienópolis, Praça da Republica e Campos Elíseos estavam completamente ocupados.

Desde sua inauguração em 08 de dezembro de 1891 a avenida Paulista não parou de prosperar, mas parece que sempre teve problemas com poluição. Logo depois da construção da avenida vieram à tona leis que desviavam o tráfego de muares e animais de carga devido ao grande volume de esterco depositado na via carroçável e o poder público não dava conta da limpeza, foi então que tiveram a idéia de desviar o transito pela ladeira da alameda Santos e o excremento rolava ladeira abaixo.

A avenida foi loteada com o propósito de atrair grandes palacetes, com regras claras quanto ao espaçamento entre as casas e a largura da própria via, o que de forma inédita até então, possibilitou a construção de uma avenida mais larga. Com a chegada dos veículos motorizados a avenida foi uma das primeiras do Brasil a ser asfaltada em 1909 com material importado da Alemanha, causando a inveja de cidadãos dos Estados Unidos e Europa.

Passou a receber a construção de prédios (os Espigões) em 1952 e em 1973 a avenida Paulista ganhou muito da cara que vemos hoje com o projeto da Nova Paulista. Durante administração de Figueiredo Ferraz (1971-1973) este projeto previa uma linha de metrô e uma via expressa subterrânea ao longo de todo o espigão da Paulista. Na administração Miguel Colasuonno de 1973 a 1975, o projeto assumiu uma feição bem mais modesta, tivemos basicamente o alargamento da avenida de 28 para 48 metros, um projeto paisagístico assinado por Rosa Kliass e de sinalização visual assinado pelo escritório Cauduro Martino.

Com o propósito de eliminar os muitos elementos de conflito no visual da avenida, João Carlos Cauduro e Ludovico Martino padronizaram as placas de sinalização, além de medidas como enterramento da fiação elétrica e telefônica. Na época, o sistema de grandes prismas verticais negros (os totens de sinalização) era inovador, com a disposição da sinalização estudada para orientação de pedestres e de veículos; com os sinais para pedestres marcados até a altura de 2,50 metros de altura, informações de média distancia até 3,50 metros de altura e acima disto a sinalização de longa distancia para os veículos da via, os semáforos foram embutidos nos prismas e o totem propiciava a colocação de placas de transito.

Totens da Avenida Paulista - João Carlos Cauduro e Ludovico Martino 1973
Vida Subterrânea

Como herança destes projetos temos hoje túneis subterrâneos concebidos para a passagem de ônibus e veículos.

Existem hoje mais de 800 tubulões de concreto e aço (espécie de estrutura usada em fundações de obras) enterrados sob a Avenida Paulista.

Um desperdício financeiro posto que, nas proximidades do parque do Trianon o metro quadrado da região custa no mínimo R$ 2.200. Já em um edifício novo e sofisticado esse valor pode chegar a R$ 8.000 (o metro quadrado mais caro do Brasil é a avenida Viera Souto em Ipanema R$ 25.000,00).

Outro uso importante do subsolo foi quando em 1991 concluiu-se o primeiro trecho da linha dois do Metrô (Linha Verde do Metrô) que ligava Paraíso a Consolação. Em 1998, após algumas extensões, a linha operava entre Ana Rosa e Vila Madalena, a maior extensão no Oeste da linha até o momento.

A futura Linha quatro (Linha Amarela do Metrô), que compreenderá o trecho definido pelas estações Luz e Vila Sônia, com uma estação na Avenida Paulista está em construção, com a entrega das obras previstas para serem entregues gradualmente entre fevereiro de 2010 e 2012.